Outro dia recebi um convite para ministrar um curso de oratória. Um curso pra ensinar as pessoas a falar. Isso me levou a uma viagem no tempo e agora, trago a você alguns ensinamentos
Eu sou sua plateia, confie em mim
Outro dia recebi um convite para ministrar um curso de oratória. Um curso pra ensinar as pessoas a falar. Falar em público. E se tem uma coisa que eu faço e faço muito é falar. Se falo bem ou não, deixo a avaliação para quem já me ouviu. Aliás, eu recebo muitas avaliações, desde criança, a respeito do meu falar. “Você é muito chata, não para de falar”, “Que voz mais irritante, chega de falar” essas são algumas das avaliações que me lembro de ter ouvido incontáveis vezes na minha infância e adolescência. Por gente de casa mesmo, pai, mãe, irmão. Eles não faziam por mal. Eu falava tanto que incomodava mesmo. Fato é que esse tipo de acusação marca as pessoas profundamente. Levei um bom tempo pra entender que essa coisa de falar demais, falar o tempo todo, era boa e acabou sendo a minha profissão.
Quando veio esse convite para ensinar as pessoas a falar, eu comecei a pensar sobre essa questão do medo que bloqueia alguém antes de uma apresentação, na hora de gravar um vídeo ou de qualquer manifestação em público.
Eu ensinei meus dois filhos a falar. A Luísa, mais velha, falou muito cedo. Eu passava o dia inteiro conversando com ela desde o dia em que ela nasceu. Colocava as mãozinhas dela nas minhas bochechas para ela reconhecer a vibração das palavras, e logo que sua capacidade física permitiu, ela saiu falando, sem medo. Falava com todo mundo. O João, o mais novo, demorou um pouco mais pra pronunciar as primeiras palavras compreensíveis. Por volta dos dois anos, soltou o verbo e não prendeu mais. Há quem diga que foi a simpatia feita por uma tia-avó numa noite de réveillon. Ele bebeu as primeiras gotas de chuva do dia primeiro de janeiro. Pode ter sido isso também. Quem sou eu pra duvidar. João é um tagarela e, às vezes, me pego dizendo: pare de falar um pouquinho.
Não sei os outros filhos, mas os meus falam muito, falam solto e eu tento não acusá-los de chatos, tagarelas de voz irritante e nenhum outro termo que possa causar neles um medo futuro de falar em público. Inclusive gosto e incentivo as pronúncias equivocadas como “manoese” e “piterodactmam”. Um dia eles vão aprender o jeito certo e a graça vai acabar.
Por aí, chego à conclusão que não vou ensinar um adulto a falar. Vou incentivar, ouvir, mostrar que o que ele tem a dizer é muito importante pra muita gente. Que o assunto que ele domina é algo que interessa a mim e interessa a outras pessoas também. E que não importa se ele faz uma pausa pra buscar uma palavra, todo mundo faz isso. Não importa que ele se confunda numa pronúncia, todo mundo faz isso. O que importa é que ele se sinta confiante e à vontade diante do seu espectador, seja uma só pessoa ou uma plateia enorme.
A gente tem medo de falar em público porque idealiza um orador “perfeito” e quer ser igual a ele já na primeira tentativa.
Se eu puder ensinar alguma coisa, aí vai:
Livre-se das expectativas que você cria pra você mesmo. Inspire-se em alguém, mas não sofra enquanto não fizer igual. Acredite, você fará melhor.
Mire em alguém que você confia muito, alguém que te incentiva e que acredita no que você diz. Se essa pessoa estiver na plateia, fale pra ela. Senão, imagine que ela está e fale pro horizonte. O mesmo vale para quem vai falar para uma câmera: olhe para a lente como se estivesse olhando para os olhos dessa pessoa que te admira.
Faça! Muitas vezes, até que um dia seja absolutamente confortável pra você.
O resto, deixe por conta do seu conhecimento sobre o assunto, do cronograma que você fez para não extrapolar no tempo, dos slides que preparou e, se quiser, pode fazer sim aqueles exercícios de respiração e de relaxamento que um monte de gente ensina por aí. Mas o mais importante de tudo é saber que tem pelo menos uma pessoa que estará te incentivando no momento em que você subir ao palco ou apertar o REC da câmera: eu.