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11 de agosto de 2020

Sobre voa e gangorra

Pra apresentar nossa nova marca, precisamos fazer um mini-flashback gigante

Por Melina Santos

A voa digital está mudando de nome e agora se chama gangorra digital. Mas por quê? Vem comigo que eu te conto, com uma historinha sobre significados, bobagens de marinheira de primeira viagem e aprendizado.

 

Quando eu fui demitida de uma empresa de comunicação, três anos atrás, achei que o mundo tinha acabado. Não tinha.

Mas nesse dia, aos prantos, fiz um post emocionado na rede social que dizia, em resumo, que eu não sabia o que ia fazer. Ainda não sei, em alguns dias. (((Mas só o tempo – ou sobreviver a 2020 – nos ensinam que no fundo a gente nunca sabe e está tudo bem não saber)).
Neste post, li algumas das coisas mais bonitas que alguém pode ler a respeito de si mesmo e guardei cada desejo no coração. O que me chamou atenção foi que, numa estatística superficial, dois em cada dez comentários me diziam pra voar. E foi assim que o nome da voa nasceu. Ela foi batizada inconscientemente por vários padrinhos e madrinhas.

Eu ainda não estava certa de que conseguiria empreender. Ter um CNPJ. Minha vida financeira era uma bagunça, tendo holerite e vale, imagina sem? Como iria entrar em uma reunião comercial? E demitir alguém? Mas, uma vez que a vida foi se encaminhando pra isso, cumpri todo o protocolo. Pesquisei se já existia agência digital com esse nome, pesquisei no site de registro de marcas, domínio de site, escolhi uma cor que nem gosto mais e achei uma fonte bonita pra escrever voa (assim, em minúsculo mesmo). Pronto, tudo resolvido.  A CDF tinha feito toda a lição de casa. Rá.

Dei cada passo dessa caminhada com cautela. Um de cada vez. Eu era sozinha e aquele nome tinha sido dado pelo desejo que meus amigos e colegas tinham inspirado. E as coisas foram dando cada vez mais certo. Reuniões, clientes, razão social, impostos, equipe. E eu esqueci que não tinha feito o registro da marca. No começo, não tinha certeza nem dinheiro – já que é um processo caro. Não era uma prioridade. Afinal, a pesquisa que era o mais importante estava feita. Né? Só que não. Fui deixando o tempo passar… E aqui está a lição número um aprendida. Não deixe, mesmo. A gente se apegou ao nome e decidiu fazer uma marca nova, cartões lindos que impressionam em qualquer reunião, com toda a história de que foram impressos em letterpress centenária. Enfim, o site novo saiu. E eu lembrei de fazer o registro. Mas, quando fui dar entrada, descobri que outra agência – de outra cidade – tinha registrado o NOSSO nome.

Não adiantava chorar o leite derramado. Eu havia falhado e não tinha registrado quando deveria ter feito.

O que não tem remédio, remediado está. “É só começar a procurar outro nome, fácil”.  Segunda lição: é mais difícil que escolher nome de filho. Muito mais. Além de ter a ver com você, seus valores, seu manifesto, sua história, ser coerente, ter um significado… ainda precisa ser inédito na sua área ou em áreas correlatas. Foram dezenas de opções e meses de quebra-cabeça. Mais de uma dezena de consultas à empresa de registro e mais de uma dezena de negativas, de não-recomendações.

Na época, começamos outra etapa e decidimos alugar o primeiro espaço físico. O time estava crescendo, a carteira de clientes também, o ano estava uma loucura… Ter uma sede era uma necessidade para que os encontros presenciais do nosso negócio – que nasceu home office antes de ser hype – fossem mais frequentes e a gente conseguisse dar conta de todas as novidades. Planejando a decoração, me apaixonei por um serrote que tinha a expressão “girl power” escrita à mão por um artista incrível. Quando fui mostrar ao Marcelo (namorido, designer especialista em branding, faz-tudo e super apoiador da agência) – ele me disse:

– Você precisa é de uma serra que tenha os dois lados, porque você não faz mais isso sozinha.

Sem a gente saber, o nome estava ali, nessa conversa. Ele achou a serra, personalizou com a frase “keep it handmade”, me deu de presente e pendurou na parede do novo escritório. Seguimos procurando, até a noite em que lembramos da serra e dessa frase: você não faz isso sozinha.

O trabalho que a gente faz não se faz sozinho. É preciso não apenas a nossa colaboração de equipe, mas uma troca muito grande com nossos clientes. É uma estratégia coletiva. O trabalho da agência só dá resultado com o comprometimento de quem nos contrata. O resultado que a gente tem é o resultado do impulso que o conteúdo do cliente tem. E vice-versa, como numa gangorra. 

As mídias sociais sobem e descem, como numa gangorra. Já deixamos de ser viciados em Orkut, que nem existe mais, e estamos aprendendo a lidar com o Tiktok, discutindo a relevância ainda do Facebook e nos comunicando basicamente pelo WhatsApp. Não importa qual a plataforma, elas sobem e descem. O que importa é o que você tem a dizer nelas.

O que podemos aprender quando estamos em uma gangorra é que é preciso equilíbrio para fazer funcionar com forças diferentes. É preciso se adaptar.  Soltar o peso pra subir, forçar pra descer, depender do outro e negociar.

E veio a pandemia pra nos ensinar que sim, há momentos de maré baixa. Todos os negócios, inclusive o nosso, foram impactados. O plano e a necessidade de ter um espaço físico mudaram. Às vezes, é preciso encolher pra crescer de novo. Mas, como numa gangorra, a gente precisa descer pra pegar impulso e subir de novo.

Por isso, esse novo nome tem tanto significado. Esse novo momento vem cheio de aprendizado.
E que venha feliz, com marca registrada e tudo que temos direito.

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