Ninguém mais aguenta a jornada 100% on-line e 100% gratuita (que no final só quer vender alguma coisa)

Você já deve ter se deparado com o anúncio de algum evento totalmente on-line, totalmente de graça, que vai ensinar a transformar sua vida em sete, quatro ou três dias. Você vai aprender a plantar salsinha, vender na internet, ensinar o cachorro a fazer xixi no lugar certo ou como sair do zero aos cem mil – seguidores, reais ou sonhos irrealizáveis. É a famosa fórmula de sucesso. Virou receita, igual àquelas do caderno da nossa avó: 

• sete colheres de conteúdo 100% on-line e 100% gratuito
• lives a gosto em horários que criem a sensação de esforço (às cinco da manhã é uma boa)
• três xícaras de e-mails que relembrem a pessoa sobre os eventos on-line
• uma colher de conteúdo que gere a necessidade de buscar mais informações

Misture tudo e ao final você vai ter uma porção de gente interessada no que você oferece – seja lá o que for.

Acredite, tem público e nicho para tudo. Aí, é só colocar a cobertura: o lançamento de um curso 100% on-line e 100% longe da gratuidade. Normalmente, vai custar R$ 197, R$ 597, R$ 1097 – depende do valor que você dá ao seu material. Mas termina em sete – dizem que assim vende mais. A cereja é um bônus, que normalmente custa R$ 297, MAS PARA QUEM FIZER A INSCRIÇÃO NESTA LIVE vai sair 100% de graça. Corre que as vagas estão acabando (como que acaba vaga de curso pela internet?).  Atendendo a pedidos, abrimos mais vagas. Mas só até amanhã (era só até ontem, mas estendemos o prazo).

Tem gente fazendo muito dinheiro com isso aí. 

Calma, não é errado vender 

Talvez você pense “e o que é que tem? É uma estratégia de negócio, uma forma de atrair potenciais clientes”, é verdade. Também é verdade que, normalmente, esses “eventos” interneteiros oferecem conteúdo relevante para quem acompanha – minhas salsinhas que o digam. Mas o que me incomoda é essa “fórmula do sucesso”, que quer fazer todo mundo achar que todo mundo vai ficar rico vendendo qualquer coisa.

Tem até um curso com esse nome – “Venda qualquer coisa”. Já vi evento ensinando que, não importa o quanto você tenha de informação e formação sobre determinado assunto, você pode ensinar pela web e fazer uma boa grana com isso. É claro que você pode, mas é aquela coisa: é de bom tom? 

Veja bem, não estou aqui para te desanimar, caro leitor. Se você tem um super negócio e acredita no seu potencial, nas suas experiências e realmente tem algo a oferecer, bora lá! Mas precisa seguir a cartilha? Fazer mais do mesmo? Ou inovar seria justamente a forma de atrair mais olhares? 

Digo isso porque vi, outro dia, uma moça vendendo curso de como crescer nas redes sociais. Pelas tantas, ela destacou “produção de conteúdo tem que ser linha de fabricação, sem tomar muito do seu tempo” (OI?). Também vi outra mulher mostrando ao vivo o momento em que bateu um milhão de reais em inscrições para um curso gravado que ela oferece. Sorte a dela, que rica. Azar de quem gastou R$ 1297 em 12x – e provavelmente nunca vai bater um milhão.

Minha ranzinzice está aqui para dizer: seja diferente. As redes sociais têm ficado cada vez mais homogêneas, todo mundo sempre fazendo as mesmas coisas, mesmas poses, tudo do mesmo jeito. Está todo mundo querendo crescer, vender, dar um jeito – convenhamos, os últimos 15 meses têm contribuído muito para essa angústia. Mas, se for para investir em uma formação, pesquise. Não se trata de números, mas de bagagem, experiência, posicionamento. Se você acredita que tem conteúdo a oferecer, ofereça. Venda, faça sua trajetória. Mas faça isso de forma inovadora. 

A internet é relacionamento, não tem fórmula de sucesso – porque a vida, afinal, não tem fórmula nenhuma. 

Se a “jornada” é só uma forma de caçar clientes, talvez seja interessante buscar alguém mais criativo, que te ensine a se destacar.